Quem é mãe já deve ter passado por isso, desde que começa a passear com seu bebê no parquinho: a competição de crescimento e desenvolvimento. Qual o peso que seu filho nasceu? Com quantos centímetros? Foi parto normal? Mamou sempre no peito? Quantos dentinhos já nasceram? Já fala? Com que idade começou a andar? E quando começou a ler? É impressionante, mas que há uma competição velada, há. Claro, sei que é recomendado avaliar o crescimento (peso e altura) e o desenvolvimento (habilidades) das crianças, principalmente nos primeiros 5 anos de vida, para detectar possíveis problemas de saúde. Mas muitas vezes isso gera um estresse grande para mães, deixando-as inseguras. E isso também pode afetar o desenvolvimento da criança, sofrendo pressões desnecessárias.
E quando é chegado momento de iniciar na escola ocorre mais um estresse: em qual série colocar? Embora haja a recomendação do Ministério da Saúde(*), definindo o grau escolar de acordo com a faixa etária, dependendo do mês de nascimento da criança, algumas mães forçam a inserção da criança em uma turma mais adiantada. Trocando em miúdos, isso ocorre com as crianças nascidas em torno do mês de março, mês de corte para idade escolar(*). Aí eu fico me perguntando: para quê? Para terminar a escola mais cedo, para entrar na faculdade mais cedo, para entrar no mercado de trabalho mais cedo… mas para quê isso?
Eu, particularmente, não vejo ganho nisso. A propósito, minha filha nasceu em outubro e isso nem foi questão para mim. Mas via muitas mães com essa preocupação. E via também que essas crianças adiantadas até que conseguiam acompanhar a turma nos conteúdos, no processo de alfabetização. Agora o que não vejo ninguém levando em consideração é a maturidade emocional da criança. Essa criança “adiantada” estará emocionalmente preparada para conviver com crianças de quase 1 ano a mais que ela? O que esse convívio poderia acarretar? E se a criança “adiantada” for bem menor fisicamente que as demais crianças de seu convívio? Como serão as conversas, as brincadeiras, em toda a vida escolar? E na fase da puberdade, qual seria o impacto dessa pré-adolescente vendo todas as suas amigas usando sutiã, menstruando e ela não?
Minha filha acabou de fazer 13 anos. Está na série que deveria estar e acredito que sua maturidade emocional está bem compatível com a idade. Mas hoje vejo uma grande diferença entre a geração dela e a minha: o acesso à informação dessa geração é muito maior que o da minha. Minha filha hoje com 13 anos já teve acesso a informações que eu talvez só tive aos 18 anos. E qual seria o resultado disso para uma menina de 13 anos? Qual é o impacto de tanta informação para quem não é emocionalmente maduro?
O mundo mudou e sempre será assim. As gerações mudam. Não concordo com quem diz: “Ah, na minha época era bem melhor!”. Era melhor porque você estava lá. A do seu filho é a melhor porque é a geração dele. Mas sinto que os jovens hoje são mais inseguros, mais frágeis até. E o que dizer dos tantos casos de jovens com ansiedade e depressão? Razões há inúmeras. Mas o que vim discutir aqui é sobre a fase escolar. Por isso não vejo razão de muitos pais quererem adiantar os filhos na escola.
Até a minha geração ainda seguíamos o modelo: escola, universidade, casar, ter filhos, ter um emprego para o resto da vida. Hoje muitos jovens já não desejam isso como “futuro”. Alguns obtêm êxitos com as novas modalidades de trabalho outros “nem-nem”. Seja qual for o caminho a ser trilhado os jovens precisam desenvolver adequadamente sua maturidade para aprender a fazer as melhores escolhas.
As crianças precisam ser crianças e curtirem cada uma das suas fases, seguindo o curso natural. As interferências externas são cada vez maiores. Por isso precisamos estar atentas à maturidade emocional de nossas crianças e futuros adultos.
(*) A Resolução nº 2, de 9 de outubro de 2018 do Ministério de Educação define a entrada na pré-escola (Educação Infantil) de crianças com 4 anos e, no Ensino Fundamental, aos 6 anos completos ou a completar até o dia 31 de março do ano que realizar a matrícula.